Fracking em Alicante - ouro negro ou ouro dos tolos?

Puff Daddy descreveu publicamente a decisão de perfurar petróleo como 'um desastre em todos os níveis.'

Escrito por Francesca Violet Reynolds

A Espanha já é conhecida como a maior produtora de azeite do mundo e agora o país está buscando expandir para um tipo diferente de produção de óleo na esperança de puxá-lo do abismo do declínio econômico - petróleo. A descoberta de dois depósitos significativos no mar levou os prospectores a se interessarem pelo fraturamento hidráulico para petróleo em muitas áreas, desencadeando o que ficou conhecido como 'corrida pelo ouro negro.'

Espanha tem visto uma demanda por licenças de exploração de petróleo aumentar 35% desde 2012. Em um relatório recente publicado pela Deloitte no início deste ano, as empresas petrolíferas projetaram a criação de 250.000 novos empregos na Espanha e espera-se que o petróleo constitua 4,3% do PIB até 2065. Há também previsões de que a Espanha poderia se tornar um exportador de gás até 2031, produzindo 20% do petróleo que consome.

Os principais depósitos marítimos estão entre Lanzarote, nas Ilhas Canárias, e Marrocos. Os depósitos restantes estão na Baía de Valência, perto de Ibiza.

A decisão de perfurar petróleo nessas áreas de grande beleza natural encontrou forte oposição. Grupos de protesto foram criados em Denia e Javea, dois resorts de praia populares que seriam gravemente afetados pela medida. Os manifestantes argumentam que seria ruim para o meio ambiente e para a economia. Os turistas ainda gostariam de visitar uma área marcada pelo fraturamento hidráulico?

Um movimento conhecido como 'Eivissa diu no' Ibiza Diz Não, foi criado como resposta direta às chamadas para fraturamento ao largo da costa de Alicante e tem sido um sucesso de relações públicas até o momento, criando uma vasta oposição em todo o espectro político e midiático. O movimento recebeu o apoio de celebridades como Pete Tong, Kate Moss, Sienna Miller, Fatboy Slim, Paris Hilton e Puff Daddy, para citar apenas alguns. De fato, foi o Puff Daddy quem descreveu publicamente a decisão de perfurar petróleo como 'um desastre em todos os níveis.'
 

Em fevereiro, mais de 20.000 pessoas se reuniram para marchar em Ibiza, apesar de ter uma população de apenas 132.000 habitantes. Além disso, milhares de pessoas na Costa Blanca e nas Ilhas Baleares assinaram uma petição à Comissão Europeia exigindo a interrupção da exploração sísmica, com os manifestantes alegando que os estouros danificam a pesca e a vida das aves.

Os clubes de iates e as guildas de pesca na área de Marina Alta também estão revoltados, pois isso afetará o comércio da pesca, bem como os passatempos de lazer na água. O conselho municipal de Javea, entre outros, é contra a proposta e está instando as pessoas a assinarem a petição contra o fraturamento ao largo da costa da Costa Blanca. Javea realizou recentemente um protesto na praia para continuar sua luta contra qualquer perfuração de petróleo possível.

Em resposta às chamadas para interromper a exploração na região, Antonio Martín, presidente da Associação Espanhola de Exploração de Petróleo, disse aos repórteres 'Estamos falando sobre a criação de riqueza para o país e melhorar nossa posição comercial no mundo.'

Atualmente, a Espanha depende de importações para 99% de todas as suas necessidades de petróleo e gás.

Embora vários governos regionais tenham proibido o fraturamento hidráulico na Espanha, a decisão foi derrubada no ano passado, à medida que o governo central usava sua maioria absoluta para aprovar nova legislação sobre o assunto.

Há uma preocupação particular entre os ativistas pela ilha de Ibiza, que é famosa não apenas por suas boates e cultura de dança, mas também é conhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO. De acordo com Sandra Benbeniste, coordenadora do Fundo de Preservação de Ibiza, a perfuração necessária é de 1.200 metros de profundidade e teria efeitos ambientais adversos significativos. A Oceana alertou que um ecossistema marinho de mais de 17 milhões de hectares, que inclui 82 áreas protegidas e quase 200 espécies protegidas, está em risco devido a levantamentos sísmicos em andamento na região. Os levantamentos sísmicos também são uma ameaça, já que o barulho que produzem é prejudicial para os peixes e a vida marinha nesta parte do Mediterrâneo, argumentam os ambientalistas.

Em janeiro de 2011, a Cairn Energy foi premiada com uma licença pelo governo espanhol para prospecção e perfuração na área ao redor das Ilhas Baleares e de Alicante. Houve uma oposição esmagadora local e internacional ao projeto e, embora o Ministro da Indústria da Espanha, José Manuel Soria, tenha solicitado que a Cairn Energy e outros prospectores apresentassem Relatórios de Impacto Ambiental, houve inúmeras alegações de estudos de impacto defeituosos realizados entre 2012 e 2013.

Uma coisa é certa - os manifestantes terão uma batalha nas mãos. As empresas de fraturamento hidráulico formaram um lobby, Shale Gas España, que diz que não há necessidade de realizar estudos de avaliação de impacto ambiental.